domingo, 29 de maio de 2011

Padrão de vida muda e classe C ganha 30 milhões de pessoas em 5 anos





Karin Sato | Valor

SÃO PAULO - Se alguém analisar uma fotografia do Brasil em 2005 e uma foto mais atual, perceberá que muita coisa mudou, a começar pelo padrão de vida do brasileiro. Por um critério que não se baseia na renda, e sim na posse de bens de consumo e no grau de instrução do chefe de família, é possível concluir que houve uma migração das classes D e E para a classe C, que aumentou em 30 milhões de pessoas nesse período.

A pesquisa Observador Brasil 2010, realizada pela Cetelem - financeira do grupo francês BNP Paribas - em conjunto com a empresa de pesquisas Ipsos-Public Affairs, mostrou que a participação da classe C na população nacional aumentou de 34%, em 2005, para 49% no ano passado, indo de 62,7 milhões para 92,8 milhões de pessoas.

Esse avanço se deve à queda na participação das classes D e E, que passou de 51% para 35%, no mesmo período (de 92,9 milhões para 66,88 milhões). Isso implica uma saída, nas duas classes de consumo mais baixas, de 27 milhões de consumidores. As classes A e B também registraram pequeno crescimento, com sua participação aumentando de 15% para 16%, de 2005 para 2009, de de 26,4 milhões para 30,2 milhões de pessoas.

" Há alguns anos, muitas famílias tinham só a geladeira. Hoje elas têm geladeira com freezer. Antigamente, as casas contavam com apenas uma televisão. Agora, mais casas têm mais de uma televisão. Com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), muita gente comprou carro e, no lugar de ter um só veículo, passou a ter dois. Muita gente que não tinha DVD, e agora tem " , disse Elisa Bernd, chefe de pesquisas da Ipsos.

" As compras foram facilitadas pelo aumento do acesso ao crédito. Por sua vez, a aquisição desses itens contribui para a mobilidade social. Pela análise das posses, conclui-se que melhorou o padrão de vida do brasileiro " , acrescentou.

O estudo se baseia no Critério de Classificação Econômica Brasil, criado pela Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), e que leva em conta dez itens. " O critério não analisa a renda. Ele leva em consideração, por exemplo, a posse de eletrodomésticos, como televisão, máquina de lavar, freezer, DVD; a posse de carros; o número de banheiros na residência; o grau de instrução da pessoa considerada chefe da família; entre outros itens " , explicou Elisa.

Mas o Brasil também avançou pela análise da renda familiar média, que atingiu um recorde em 2009, chegando a R$ 1.285, contra os R$ 1.162 registrados em 2008. A cifra foi inflada pelo crescimento da classe média e pela melhoria de vida entre brasileiros das classes mais baixas, explicou a Cetelem. Para se ter uma ideia do avanço, em 2005, essa cifra era de R$ 974.

" O avanço da renda no ano passado foi influenciado pelas medidas anticíclicas (adotadas pelo governo em meio à crise financeira mundial), pelo crescimento do emprego e pelo desenvolvimento do Nordeste " , opinou o diretor-geral da Cetelem, Marcos Etchegoyen.

Já o diretor-geral da Cetelem para a América Latina, Marc Campi, enfatizou a importância de programas de transferência de renda para a melhoria de vida do brasileiro, especialmente no Nordeste.

Na análise por regiões, justamente o Nordeste foi destaque, com um aumento na renda familiar de R$ 706, em 2008, para R$ 884, no ano passado. O Sudeste foi o outro destaque, uma vez que, na região, a cifra passou de R$ 1.317 para R$ 1.496.

Na análise por classes de consumo, conclui-se que, de fato, houve uma melhoria de vida nas classes D e E, cuja renda familiar média aumentou de R$ 650 para R$ 733, entre 2008 e 2009. Já na classe C, subiu de R$ 1.201 para R$ 1.276.

Segundo Etchegoyen, a consequência do aumento da renda foi o crescimento dos gastos dos brasileiros. A pesquisa, realizada em dezembro, questionou os participantes sobre o quanto gastaram em novembro. O resultado foi um gasto por família de R$ 1.066,25. Em 2008, essa cifra foi de R$ 970.

Questionado se os gastos não cresceram por conta de aumento nos preços, Etchegoyen respondeu que este fator pouco influenciou. Ainda segundo ele, o resultado é " muito positivo " , se for considerado que, no ano passado, o país lutava contra a crise mundial. " O que impulsionou o aumento dos gastos foi o maior acesso das pessoas físicas ao crédito " , afirmou.

Este ano, os gastos dos brasileiros devem se manter no patamar observado em 2009, revelou o estudo, que classifica a pretensão de compra por item. Os eletrodomésticos e os móveis lideram o ranking, com 34% dos entrevistados respondendo que vão adquirir esses produtos. Já o item lazer/viagem ficou com 28% das intenções de gasto, seguido por telefone celular, com 21%.

Vale citar ainda que 10% dos entrevistados dizem que pretendem comprar imóveis este ano, percentual que, para Etchegoyen, é pequeno. " O dado mostra que o acesso ao crédito imobiliário ainda é difícil, apesar do avanço nos últimos anos " , completou

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