Matéria divulgada no jornal Valor Econômico, no dia 24 de maio de 2011, sobre estudo do IBOPE Inteligência
Mais da metade dos brasileiros não faz nenhum tipo de investimento, segundo pesquisa do IBOPE.
Pelo levantamento Radiografia do Investidor, realizado a pedido da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os sem-investimento somam 51%. Mas esse comportamento está mudando.
Em 2005 eram 68%. O mercado de investimento quer atrair esses clientes na maioria, mulheres da classe C, com renda entre R$1 mil e R$1. 500 e terá que encarar os desafios de se adequar às suas características e necessidades.
As não investidoras têm de 18 a 49 anos e baixa escolaridade, com metade tendo cursado até o ensino fundamental.
A principal razão que alegam para não investir é o fato de não terem "sobras" no final do mês.
"A classe C ainda vive a fase do consumo, mas já começa a se perguntar sobre o investimento. Ela chega às instituições financeiras com dúvidas bem iniciais, como o que são ações e associando o investimento à possibilidade de conseguir alta rentabilidade", diz Eduardo Jurcevic, superintendente da Santander Corretora.
Quase metade das não investidoras acredita que os fundos de investimento são para quem tem muito dinheiro para guardar.
"O fundo foi feito justamente para essa população que está fora dele", diz Walter Longo, vice-presidente de estratégia e inovação da Y&R.
"Para que a classe C conheça as vantagens dos fundos, o mercado precisa rever práticas que inibem esta camada, como os ambientes de investimentos nas agências e a terminologia usada", acredita o especialista.
Entre os investidores, a poupança ainda é a opção campeã. Em 2005, 35% eram adeptos. Em 2011, 44%.
Os especialistas em finanças acreditam que a passagem da mentalidade poupadora para a investidora não é imediata.
"A educação financeira é um processo, movido por várias entidades, da mídia às instituições financeiras e permite que o investidor conheça novas opções e escolha melhor de acordo com seus objetivos", afirma Luciane Ribeiro, diretora da Anbima.
Os fundos de previdência (Fapi/ FGBL/VGBL) também se destacam. Na pesquisa anterior apareciam com 2% de preferência e agora com 7%.
A performance superou os fundos de investimento, que, em 2005, tinham 4% de clientes e saltaram para 7%, e os CDBs, que foram de 2% para 3%, mesmo total dos optantes de ações em 2011.
Os resultados mostram dos tipos de desafios, aponta Sílvia Cevellini, diretora de planejamento e atendimento do IBOPE.
"Temos os não incluídos e os que já são investidores e precisam continuar motivados."
A pesquisa reuniu duas mostras. Na estimativa de investidores ouviu, por telefone, mil maiores de idade das classes AB e C.
Na radiografia dos investidores a base foram 604 entrevistas telefônicas com o mesmos segmentos sociais.
Clientes de fundos de investimento estão mais atentos às taxas de administração
Apenas 16% dos investidores entrevistados não souberam dizer quais valores desembolsam pelo serviço. Há seis anos, eram 65%. Dobra o uso da internet como ferramenta de pesquisa
A classe A adotou os fundos de investimento. Em seis anos, essa fatia do mercado saltou de 22% para 34% na preferência dos que ganham entre R$ 9.600 a R$ 19.200.
E acima dessa faixa, a opção era de 10°l° em 2005e foi para 21%. Pela pesquisa o investidor é homem, casado, de 45 a 57 anos e tem filhos.
Os resultados apontam que ele está mais atento à sua aplicação, possui mais familiaridade com a indústria de fundos e conhece os valores mínimos (37% em 2005 e 50% em 2011).
Também diminuiu o patamar dos que não souberam responder sobre a rentabilidade máxima e mínima dos fundos (32% na pesquisa anterior e 11% na atual).
Merece destaque a atenção despertada pelas taxas de administração. Há seis anos, 65% dos entrevistados não souberam responder os percentuais cobrados pelas instituições.
Agora são 16%. E quando a questão é a desvantagem da aplicação em fundos, a mesma taxa foto item que apresentou maior incremento, indo de 11% para 18%.
O risco de perdas continua sendo o maior problema, segundo 34% dos clientes. "A taxa de administração é parte do investimento e vem caindo. Acredito que deve continuar sendo ajustada pelo mercado que a cada dia oferece opções mais competitivas".
"Preço não pode ser o carro-chefe na decisão sobre um fundo. A percepção do investidor já engloba mais fatores, desde o consultor que o atende até o quanto a instituição o ajudou, ou não, a atingir seu objetivo", exemplifica Jurcevic, da Santander Corretora.
Primeiro o gerente, depois a internet
Na hora de se informar sobre os fundos e outros tipos de aplicações, o gerente se mantém como o primeiro a ser procurado. Na pesquisa anterior, tinha 54% da preferência.
Agora foi a escolha de 43%. Mas depois do gerente e da mídia especializada, a Internet é a bola da vez. Quase dobrou sua base de usuários: são 39% face aos 22% anteriores.
Ainda sobre o Internet banking, chama atenção que 30% dos clientes que decidem começar a aplicar em fundos, não busquem orientação. Esse percentual opera sozinho, através dos serviços bancários on-line.
"O gerente continua sendo o preferencial do investidor, que gosta deste contato olho no olho na hora da aplicação inicial. As posteriores já acontecem via Internet."
"Daí a importância que damos para ambos. Recentemente fizemos treinamento para cinco mil gerentes e ampliamos recursos como simuladores e informações no portal de investimentos", diz Jurcevic.
A pesquisa revelou que entre os principais objetivos para o investimento, os fundos são apontados como opção para uso na velhice em 20% das entrevistas, contra 5% em 2005.
Ter dinheiro guardado para emergências e por segurança é a opção de 32%.
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